Relatos de Parto Domiciliar

“O local do parto deve ser,  preferencialmente, onde a mulher se sinta  mais segura e mais próxima da sua cultura.”

Relato de Parto Marcela Flueti – Nascimento Pérola

Nascimento Pérola, parto domiciliar – 19/dez/2014 – Home birth of Pérola from Além D’Olhar fotografia on Vimeo.

Equipe

Naolí Vinaver – parteira
Larissa Grandi – parteira
Mayra Calvette – parteira
Suzanne Shub – vídeo maker Além D’Olhar Fotografia
Vívian Scaggiante – fotógrafa e vídeo maker Além D’Olhar Fotografia

Família
Marcela Flueti – mãe
Régis Scaggiante – pai
Miguel Flueti Scaggiante – irmão
Eva Flueti – mãe da Marcela

 

Data do parto: 19/12/2014

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Os primeiros desafios

Aí vou eu! Entrar nessa viagem interna…

Pra mim, o processo do parto já começou 1 mês antes, quando o Miguel pegou uma doença de pele chamada impetigo, a qual é contagiosa pelo contato.
E começamos a tratar de várias formas, buscando primeiro pelos métodos mais naturais, no quais confiamos. Mas as feridas aumentavam cada vez mais e como eu estava sentindo que meu parto seria antes do esperado, resolvemos nas 36 semanas de gestação dar antibiótico para o Miguel (pela primeira vez na vida). Com dor no coração mas era com a melhor das intenções, pois ele havia combinado com a parteira (Naolí) que ele seria a pessoa que receberia a irmã na hora do nascimento. Mas nem com o antibiótico melhorou.

Preparativos e contextualização

Com 35 semanas, na lua cheia, tive 3 dias de pródromos intensos. Contrações que vinham a cada 3 minutos e ficavam por horas. Mas eram curtas, então eu não me alertava para ser realmente o parto. E conforme a lua minguante veio, tudo parou e minguou. Nem me sentia grávida de tão tranquila que eu estava. Mas eu continuava sentindo que logo logo chegaria o meu momento. Deixamos a banheira inflada e diariamente novos detalhes importantes eram preparados.

Minha mãe veio pra minha casa pra ficar mais pertinho, pois ela era uma das escolhidas para estar no parto. Desta vez senti fortemente o impulso de chamá-la, e gostaria muito que meu pai também pudesse vir, mas pra ele não foi possível. A presença da minha mãe desta vez tinha um sentido muito especial. O que eu mais queria com isso, era aprender a me entregar mais pra ela, entregar o meu amor, a minha confiança, me permitir receber tudo o que ela sempre teve como mãe. Minha intenção maior era aprender a honrá­la como mãe e mulher na minha vida.

Início do trabalho de parto?

E na lua nova, num belo dia de sol, eu estava me aprontando para ir à praia à tarde. Coloquei meu biquini. Vi e Su chegaram para fazerem uma filmagem do Miguel que elas tinham combinado. Por volta das 16:30h, eu comecei a sentir umas contrações a cada 5 minutos. Mas estava só observando pra ver se realmente era um início. Mas eu estava bem tranquila. Preparamos um lanche da tarde e começamos a comer. No meio do lanche, por volta das 17:30h / 18h, comecei a ter contrações. Uma atrás da outra. Elas vinham a cada 3 minutos e era longas e tão intensas que eu precisava agaichar. O Régis fazia massagem nas minhas costas. Deixei o café no meio e tive vontade de vir pro quarto pra me sentir. Percebi que talvez seria mesmo o trabalho de parto começando. Mas o Régis me perguntava se eu gostaria que ele chamasse a Naolí e eu falava que ainda não porque eu não estava tão certa de que isso continuaria. kkkk.

Realmente… início do trabalho de parto

Mas… resolvi entrar no chuveiro porque realmente estava intenso e queria ver se me aliviava. Enquanto eu estava no chuveiro, o Régis avisou a equipe pois sabia que o negócio tava pegando! A Vi e a Su já estavam aqui, então eles começaram a organizar as coisas junto com a minha mãe. Nesse meio tempo encheram a banheira e eu nem vi nada. Só fiquei no chuveiro. Eles levaram a bola pra mim e ali eu fiquei, totalmente na partolândia.

Depois de um tempo, o Régis entrou no chuveiro comigo. Foi muito bom ele ali comigo, pois tava bem intenso e senti mais segurança com sua presença. Comecei a sentir as contrações de uma forma muito intensa. Elas vinham cada vez mais seguidas e muuuuito intensas. Era uma dor aguda, muito diferente do que eu senti no parto do Miguel. Realmente parecia que eu estava rasgando por dentro. Sentia um faca no meu baixo ventre e uma tendência a travar minhas nádegas com muita força. Eu sentia muita dificuldade de soltar, muita mesmo. Nada do que eu conhecia de técnicas de relaxar, entregar eu conseguia fazer.

Naoli perguntou se eu queria que ela visse se era a bexiga que me incomodava. Eu topei, mas ela me olhou e disse que era o colo mesmo, e que eu estava com 2cm. Respirei. E continuei meu foco em estar em cada contração.

Abrindo as portas da consciência e entendendo os bloqueios

Parecia insuportável o que eu sentia. Entrei num movimento de auto exigência por não estar conseguindo me entregar de uma forma mais prazerosa ao processo. Até que chegou um momento que o Régis me perguntou o que estava acontecendo e eu respondi que eu estava sentindo medo. Nisso abriram muitas portas na minha consciência… acessei vários medos. Um deles foi o medo de não dar conta de cuidar de outro filho, de ter que parar de trabalhar por meses e financeiramente ficarmos numa situação ruim. Medo de ser mãe de uma menina e não saber lidar. Medo do puerpério. Mas esses medos vinham à consciência e na mesma velocidade eles eram limpos e eu conseguia me entregar pra eles. Mas o que mais foi difícil, foi o medo de ter que lidar com o Miguel com impetigo, sem poder tocar na irmã, sem poder recebê-­la no nascimento como ele tinha planejado, de ter que ficar freando seus impulsos de carinho com a irmã… aiii. Nessa hora a dor veio na minha alma. Senti a dor da contração em todo o meu corpo. O desafio que seria lidar com tudo isso, sendo que, o que idealizei foi um momento de pura troca de amor e entrega.

Detalhe: enquanto tudo isso acontecia (numa velocidade da luz, pois isso tudo rolou em 30 min), Miguel entrava toda hora no banheiro e falava: – Mamãe, a banheira está pronta. Vamos lá? Mamãe, bora pra banheira?
Meu coração!!! Ele tinha se programado para entrar na banheira durante o parto e treinou todas as posições possíveis para pegar a irmã quando ela nascesse.

Onde estava a saída?

Mas… durante o meu processo no chuveiro, dos medos, eu e o Régis conversamos e acordamos que na verdade nós tínhamos duas opções:

1) Não entrar na banheira pra não correr o risco de contaminar a água com as feridinhas do Miguel e assim ninguém entraria.

2) Falar pra ele que ele não poderia entrar na banheira, e que só eu e o Régis poderiamos entrar.

Puta merda!!! Que droga!

Miguel ficou furioso com esta opção quando o Régis a expôs para ele.

Régis me deixou ali sozinha um pouco para eu conversar com a Naolí. Falei pra ela que estava difícil encontrar meu caminho. Eu toparia tudo naquele momento que pudesse me ajudar a mergulhar. Mergulhei fundo no processo. Nos intervalos das contrações conseguíamos conversar mais sobre tudo aquilo. Foi quando o Miguel apareceu me oferecendo a banheira de novo e o Régis falou pra ele que nós não entraríamos e explicou o por quê. Meu coração! Senti outra dor imensa, de imaginar o que ele estava sentindo. O medo de ele se sentir rejeitado e inadequado naquele momento que a irmã chegava e ele dividiria o lugar de filho. Nossa foi muito difícil!

A saída

Mas, respirei… a dor ficou ainda mais insuportável e Naolí me convidou para sair do chuveiro para que ela tentasse me ajudar chacoalhando meu quadril. Saí e fiquei de quatro apoios na minha cama e eles chacoalhavam meu quadril. Era a única coisa que me ajudava a soltar, uns 20% do que eu poderia. Neste momento me conectei com muitas forças divinas. Pedi ajuda espiritual a todas as entidades que eu me conecto ou já me conectei algum dia. Neste momento, o Miguel entrou na minha frente, olhou nos meus olhos profundamente e me conduziu numa respiração profunda. Isso me levou a uma explosão interna. Um misto de entrega profunda com a honra de ter esse menino como meu filho, que mesmo depois de eu ter falado não a ele (com relação à banheira) ele me olha com tanto amor, confiança divina e entrega. E foi neste momento que veio uma energia de puxo muito forte. Uma permissão e entrega profunda a tudo o que viesse. A força da vontade e a confiança na vida. Mayra estava com a Ayla no colo do meu lado e me deu a mão. Essa mão!!! Foi a força divina de todas as mulheres presentes nesse universo. Senti a potência da vida!

Detalhe: em cada contração eu vivia um universo inteiro. Mayra me dando a mão foi 1 contração. Miguel me olhando foi 1 contração… e tudo assim.

Eu sentia a conexão profunda de todas aquelas mulheres (Lari, Naoli, Mayra, Ayla, Mãe, Vi e Su) que estavam ali presentes. Uma corrente linda de força, mas eu olhava pra elas agradecida e honrada e sabia que era só eu mesma que faria este caminho. Que o que eu precisava delas era justamente e exatamente tudo o que elas estavam proporcionando ali: a confiança na natureza dessa vida!

O expulsivo – A flexada final

Neste momento Naoli fez um toque e eu estava com 10 cm. Ela passou uma sonda tb para ver se havia alguma possibilidade de aquilo tudo ser uma bexiga cheia enchendo o saco. Com a intenção mais linda de me ajudar. Mas não tinha nada de xixi. Naoli virou de costas para arrumar as coisas. Pegar as luvas. Eu senti um puxo do fundo da minha alma. Senti a força da contração trazendo meu bebê de dentro do meu útero e fazendo toda a passagem pelo canal vaginal numa única contração. Foi tão profunda e intensa a sensação que nem consegui sair dela para avisar a parteira que estava nascendo. Eu até tive um pensamento de: ­ “Nossa eu preciso avisar a Naoli”.

Mas, como uma flecha ela veio e saiu sozinha. Se lançou pra vida. Minha filha. Minha pequena Pérola chegou! As 19:20h. E todos viraram pra ver o que tinha acontecido e se depararam com uma bebê rosinha linda, com a cabeça galega. Super forte e viva!
Miguel já estava com as luvas (essa foi uma solução que encontramos para que ele pegasse a irmã) e juntamente com a Naoli a pegaram e a trouxeram pra o meu peito. Só amor. Puro amor! Ele todo feliz por ter recebido a irmã. E eu já transbordando de amor por toda essa oportunidade maravilhosa de parir.

Agradecimentos

Sou imensamente grata a tudo, a todos, à unidade que me permite ser!

Grata por ser cuidada por mulheres profissionais tão sensíveis, maravilhosas, sabedoras!

Grata por ter um companheiro de verdade. Um homem com o qual eu vivo na força da verdade. Um filho tão sábio e sensível. Tão amor!

Grata mãe, por me ajudar a ir tão profundo em mim e ser acolhida por você.

Grata à vida!

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