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Desmistificando a Dilatação no Parto Natural

Toda mulher tem dilatação no parto natural?

Imaginando que toda mulher é um ser animal, o qual fisiologicamente funciona dentro das propriedades da natureza, puramente baseada nos instintos e na sobrevivência, não me vem nenhuma dúvida de que toda mulher (bicho) dilata. Se a mulher (bicho) estiver protegida de ataque, em território seguro, sem interferências que desvirtuem sua natureza, ela dilata.

No entanto, além de “mulher bicho”, de ter um cérebro reptiliano, existem outros componentes que influenciam diretamente no funcionamento fisiológico que fazem parte do ser humana. O sistema límbico é responsável por lidar e filtrar as memórias celulares ligadas às emoções e sentimentos. Ele traz significado para o sentimento fazendo o link com a história de vida e a forma com que cada experiência foi assimilada. As memórias celulares tem uma força e um potencial energético impressionante. A forma com que cada mulher lidou com cada experiência e a registrou, traz um sentido pra si, cria crenças, olhares diante da vida, estrutura o seu corpo da maneira mais eficiente dentro da visão de sobrevivência. As experiências de um indivíduo, gera / cria um espetáculo maravilhoso no corpo. Somos capazes de inventar internamente diversos personagens, cada qual com sua forma de ver e viver a vida nesta cena que por acaso somos nós, ou imaginamos que somos.

Poderíamos aqui falar de toda a gestação, de toda a vida, mas com a intenção de focar num ponto… Falando somente do parto… Quando uma mulher inicia o trabalho de parto, abrem-se as cortinas do seu grande espetáculo! O autor está ali o tempo todo; ele é o grande mestre dessa orquestra. Ele sabe qual cena de cada personagem é essencial para o bum do espetáculo.

Uma mulher parindo, então, traz à cena ,à tona os conteúdos escolhidos, de uma forma inconsciente, para serem apresentados a si mesma. Isso pode aparecer com total consciência e clareza auxiliando no desabrochar do processo do parto. Ela pode, por exemplo, estar numa fase específica da dilatação onde de repente a “dor” aumenta e se torna irreconhecível, as ferramentas (internas e externas) que ela usava não servem mais e lhe é feito o convite para dar um passo em outra direção. Muitas vezes, a escolha para dar o passo (que pode ser mudar de posição, soltar um som diferente, seguir seus instintos, verbalizar, chorar, assumir o NÃO…) demora a vir à consciência. E quando ela escolhe, simplesmente o quadro muda. Inicia uma nova cena. Esse processo acontece em ondas, bem como as cenas do espetáculo. Num parto vivemos várias oportunidades de escolhas, na maioria das vezes puramente inconscientes. Damos luz à morte (a morte como nossas negações, o que é escondido, escuro…) e a transformamos em vida.

Mas, é importante valorizar que muitas escolhas não são possíveis de serem feitas em determinados momentos. Alguns personagens por algum motivo não são permitidos entrar em cena naquele dia. E por mais que a platéia não entenda o sentido daquele furo na cena, o autor sabe que este era o melhor espetáculo para aquele exato momento. E que na próxima apresentação novos personagens serão reconhecidos. Não estou falando de acomodação ou submissão, mas de tomar posse das escolhas conscientemente.

Por isso, quando ouço algum/a profissional dizendo que no fundo sabe que toda mulher poderia dilatar e não entende por que isso não foi possível, se questionando sobre a natureza, me vem este espetáculo! E a forma como é conduzido o parto faz toda a diferença. Convivo e conheço parteiras que em sua trajetória nunca viram uma mulher não dilatar. Por que será?

Já acompanhei muitas mulheres parindo, em ambientes diversos e com profissionais diversos. E uma das coisas que me fez respeitar ainda mais as parteiras, foi observar seu interesse em mergulhar junto com a mulher no seu processo pessoal e a sua capacidade de ajudar nessa passagem. Eu já vi sim mulheres que precisaram de dias para parir e que vivenciaram horas de contato com uma mesma dilatação, com uma cena específica. E vi as mesmas fazendo seu mergulho interno com apoio adequado e parindo. É de babar!

Trazer consciência para o processo pessoal é um presente! Ser acompanhada por um profissional, durante a gestação e o parto, que ajude neste mergulho profundo é facilitar o caminho.

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