Confira neste lindo relato de parto a experiência de um casal que superou grandes desafios em um longo trabalho parto, o qual proporcionou uma vivência profunda em casa e no hospital, terminando em um merecido parto natural.
Equipe
Maristela – médica obstetra
Larissa Grandi – parteira
Marcela Flueti – doula
Família
Sig – pai
Data do parto: 23/06/2016
Relato de parto
É transbordando de emoção que inicio esse relato de parto, de dentro do meu quarto, sentada na poltrona onde acabo de amamentar minha filha, nesta ensolarada tarde do dia 22 de julho de 2016, um dia antes de celebrar o primeiro mês de vida da vida que eu gerei, nutri, pari e que agora dorme tranquila na minha frente.
No dia 21 de junho, perto das 20h, enquanto meu marido Sig e eu jantávamos, comecei a sentir contrações. Estava muito feliz pois a vontade de parir nossa filha era muito grande. Estava com 40 semanas de gestação. Enquanto jantávamos, enviamos uma mensagem para a Maristela, nossa obstetra/parteira e para a Marcela, nossa doula, para avisar que provavelmente havia chegado o dia. Era cedo ainda, mas escrevemos caso elas precisassem se preparar, enfim, para já ficarem sabendo. As contrações foram ficando intensas, mas tranquilas. Fomos pra cama relaxar e observar de quanto em quanto tempo elas estavam vindo. Com o passar das horas, achamos melhor anotar. Sig fez uma tabelinha e ficamos ali, sentindo, anotando, conversando… Então eu tomei um banho pra relaxar e depois de um tempo Sig fez uma foto da tabelinha e enviou pra Marcela. Ela disse pra gente descansar um pouco e que estava se preparando pra ir até nossa casa. Nessa hora me deu um frio na barriga! Era verdade, mesmo…
Só o começo…
A Marcela chegou perto das 2h da manhã, eu estava no quarto, sentada na bola de pilates e ela ficou ali comigo. Acho que passaram algumas horas e como as contrações ainda não estavam super intensas, Sig foi descansar um pouco. Ficamos ali, as duas, Marcela descansando também, pedindo pra eu descansar, mas era difícil. Lembro que eu ficava conversando com ela e às vezes vinha uma vontade absurda de rir. É, de rir! Até falei “é ruim, mas é bom, né?” E as contrações vindo… E o tempo passando… Depois eu entendi porque a Marcela pedia pra eu descansar. Ainda tinha um bom tempo pela frente! Só não sabia que seria tanto!
O dia amanheceu, eu continuava na bola, Sig estava lá em baixo, na cozinha, senti cheiro de café. Acho que nessa hora que percebi que tinha passado tanto tempo. Puxa, passei a noite rebolando na bola! Descemos para tomar café da manhã, mas para mim já estava bem difícil. Subi de novo pro quarto, a piscina já estava cheia, Sig e Marcela iam aquecendo a água e eu… rebolando na bola! Quando vi, a Maristela chegou. Nessa hora me deu outro friozinho na barriga! Pensei “se ela tá aqui é porque logo vai nascer”. Estava muito feliz e aquele riso frouxo vinha de novo. Me lembro que olhei pra Marcela e, rindo, disse: “você coloca essa bobeirinha na cápsula também, ou só a placenta?” (me referindo ao trabalho que a Marcela faz de secar e encapsular a placenta para ser consumida após o parto). Pra mim, estava um clima ótimo. Nem acreditava! Havia selecionado umas músicas em duas pastas no computador: “relax” e “animex”. Pedi pro Sig colocar a “animex”. Estava muito bom, apesar da dor e tudo o mais.
Passou um tempo, as contrações foram ficando mais intensas, e Maris e Marcela sugeriram que eu entrasse na piscina. Nossa! Como foi bom! Cheguei a beijar a piscina de tão gostoso que estava ali! Aquela água quente era tudo o que eu precisava… Quando a Marcela chegou me oferecendo uma colherada de mel eu, que estava com os olhos semi-fechados durante a maioria do tempo, olhei ao redor e vi que a Maris já preparava suas coisas. Lembro que pensei “caramba! é agora!”. Então a Maris me perguntou se eu não queria me tocar e ver se conseguia sentir os cabelinhos dela. Tentei, mas não senti nada. Sugeri, então, que ela fizesse o toque porque não me sentia em condições. Maris fez o toque e, para a surpresa de todos nós, detectou que ela estava bem encaixadinha, mas que meu colo não havia descido. Na hora não entendi o que isso queria dizer, a Maris disse que precisaria tentar puxar meu colo pra baixo quando viesse a próxima contração. Então ela fez e eu senti uma dor absurda de forte… Achamos melhor sair da piscina e ir pra cama, pois eu precisava ficar de quatro apoios, com a bunda lá pra cima, para o bebê voltar um pouco do encaixe, esperarmos a próxima contração e tentar puxar o colo de novo. Era muita dor… Mas fomos tentando, eu realmente berrava cada vez que a contração vinha. Nessa hora, tudo aquilo que estava lindo, alegre e suave, acabou. Virou dor, medo e insegurança…
Força extra em momentos únicos
Já estava me entregando quando veio uma mão na minha mão e colocou uma pedra para eu segurar e me disse “pra te dar força”. Era a Sayonara, nossa amiga-irmã que eu havia chamado para estar presente no parto junto com o Murilo, amigo-irmão e médico que acompanhou a gestação desde o princípio. Mais cedo, como estava muito difícil, disse pro Sig que não queria ninguém. Não tava legal. Bom, apertei forte a pedra da Sayô durante mais umas contrações mas, realmente, não estava mais aguentando e disse: “Chega. Vamos pro hospital fazer uma cesária”. O colo não estava descendo, eu estava totalmente contraída, tensa… A Marcela e a Maris tentavam ver o que estava me impedindo de relaxar, de me abrir para essa vida que estava pronta para nascer. Maris perguntou se podia fazer comigo um Thetahealing. Na hora, eu nem entendi direito o que ela tinha falado, não sabia o que era, mas disse que sim. Depois fui pesquisar e vi que Thetahealing é uma técnica de cura energética que tenta desbloquear suas emoções e crenças que geram medo, receios, etc… Ela tentou acessar meus medos, me pedindo permissão, mas, não sei porque (afinal, eu queria tanto!) eu não permitia. Acho que depois disso tentamos mais algumas vezes na posição de quatro apoios, mas eu já estava exausta. Elas ainda me disseram que tinham mais uma posição que eu podia ficar, que era pra eu tentar essa e, se não desse, então sim a gente iria pro hospital. Quando a Maris demonstrou e a posição era praticamente eu plantar bananeira na poltrona (na poltrona onde agora estou sentada, por sinal), eu disse: “Desculpa, mas não vai dar. É sério. Tá muito difícil. Eu não queria fazer cesária, mas eu não aguento mais…”.
Ok… vamos para o hospital
Então fomos. Sayô ficou na nossa casa, dormiu lá, ficou na reza, na torcida, mandando boas energias. Ai, como foi difícil sair de casa… Parei na porta e quis voltar, mas não ia conseguir ficar. Precisava sair. Combinamos que a gente iria pro hospital e que eu iria tomar uma analgesia e então íamos ver se continuávamos ou se faria a cesária. Topei. Sabia que a gente ia tentar continuar, afinal, no fundo ninguém queria uma cesária, muito menos eu. Era mais ou menos oito da noite quando chegamos no hospital. Enquanto Maris e Sig conversavam com a recepcionista, sentei e segurei firme na mão da Marcela. Não queria perder a sintonia que estava presente enquanto estávamos em casa. Segurar a mão dela foi como manter esse clima da nossa casa, do nosso ninho.
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Notícias inesperadas durante o trabalho de parto
Fomos pra uma sala de espera enquanto preparavam a sala de parto e também a analgesia. Em seguida Sig chegou e me disse que meu plano de saúde não cobria quarto, só enfermaria e como ali só tinha quarto ia sair super caro todos os custos do parto. Lidar com essa notícia e ter que tomar uma decisão me fez desabar. Não sabia disso e no fundo não havíamos nos preparado para parir em hospital (o que foi um erro nosso porque no início da gestação nosso plano A era o hospital e só depois que decidimos ter em casa e deixar o hospital como plano B). Respirei fundo e disse: “Vamos ficar aqui. A gente se vira pra pagar.”
Então fomos eu e Maris para a sala de analgesia. Estava bem nervosa porque nunca tinha feito nada parecido na vida. Dessa vez foi a mão da Maris que me salvou… Quando cheguei de volta na sala de parto, Marcela e Sig já estavam lá e eu estava bem de novo, sem dor, por causa da analgesia, só sentindo a barriga endurecer com as contrações. Maris fez um toque e, para nossa alegria, o colo tinha descido e eu estava com 5cm de dilatação. Todos suspiraram aliviados e a Marcela disse: “Agora todo mundo aqui vai descansar, você vai descansar e deixar seu corpo agir”. Nisso, percebi que começou um entra e sai da Maris e do Sig na sala de parto e comecei a desconfiar… Perguntei pro Sig: “Meus pais estão aqui, né?”. Ele disse que sim. Acontece que ninguém da nossa família, nem dos nossos conhecidos estava sabendo que a gente ia parir em casa (porque sabíamos que essa decisão não seria aprovada pela maioria) e minha mãe, já desconfiada desde o dia anterior que algo de diferente estava acontecendo, foi com meu pai, meu irmão e minha cunhada até o hospital ver como a gente estava. Por sorte, eu estava bem com a analgesia e pedi o celular para falar rapidinho com ela. Sabia que se ela ouvisse minha voz e percebesse que estava tudo bem, que eu não estava morrendo, ia se tranquilizar. Foi o que aconteceu. Como estava tudo bem mesmo, eles foram pra casa e ficaram de voltar no dia seguinte, no horário de visita. Maris, Sig e Marcela ficaram descansando e eu, na medida do possível, também. Não dormi, mas relaxei um pouco. Maris perguntou se podia estourar minha bolsa, que isso ia ajudar, e eu disse que sim. Fiquei mais um pouco deitada e depois fui de novo pra bola. Me sentia melhor ali, conseguia relaxar mais. Na verdade relaxei até passar o efeito da analgesia. Quando passava o efeito e voltava a sentir dores, tudo se contraía. E o colo voltava a subir.
Para encurtar a história, tomei mais 4 doses de analgesia, pro colo ficar onde estava e a dilatação progredir. Já havia passado muito tempo, todos estavam exaustos. Lembro de uma cena em que olhei para um lado e vi Marcela dormindo, olhei pro outro e vi Maris e Sig capotados também. E eu lá, rebolando na bola… Nessa hora senti um vazio, um pouco de medo e pensei: “Isso não tá normal…”. Já estava perdendo as esperanças de novo, querendo desistir, pensando que queria que aquilo acabasse logo. Estava preocupada com elas, com o Sig, mas não sabia o que fazer. Era mais ou menos 3h da manhã do dia 23 quando, a pedido da Maris e da Marcela, a Lari chegou. Essa chegada foi revitalizadora. Logo quando ela chegou eu não estava com muita esperança, inclusive pedi de novo pra fazer uma cesária, mas a Lari perguntou se podia dar uma olhada, ver como estava o colo, a dilatação. Então fui pra cama de novo e ela, com toda a confiança, disse que não valia a pena fazer a cesária, que estava muito perto de nascer, já estava com 8cm de dilatação. Só que com isso, veio mais uma surpresa: nossa bebezinha tinha virado de lado. Seria necessária uma manobra para ela se posicionar novamente. Mais um momento de tensão e preocupação. Nessa hora, achei que ela poderia não nascer. Fiquei confusa, com medo, mas a Lari me parecia super confiante e eu me deixei levar pela confiança dela.
Grandes desafios, grandes recompensas
As próximas três horas deste longo relato foram as mais difíceis e as mais bonitas de toda minha vida…
Com a ajuda de dois rebozos que foram entrelaçados na minha cintura, Marcela do meu lado esquerdo segurando um e Maris do meu lado direito segurando o outro; com o apoio e os carinhos do Sig atrás de mim e com a sintonia que entrei junto com a Lari na minha frente, resgatei minha confiança. Não gritei, estava cansada demais, fazia a força pra dentro, com a boca fechada. Foi uma sugestão da Marcela e funcionou muito bem porque eu sentia que a força não se desperdiçava no grito e sim ia toda pra dentro de mim. Quando passava a contração, Lari pedia para eu descansar e pensar em um lugar de conforto. Meu lugar… Uma imagem linda minha, do Sig e da nossa filha remando num caiaque duplo na Lagoa do Peri. De fundo, murmurava uma música que cantei muito durante a gestação: O Rio, da Marisa Monte. Lari tentava cantarolar comigo. E isso foi lindo. Meu parto voltou a ser lindo! Quando senti que a “contração” passou a ser, de fato, “abertura”, pensei: “Agora vai!”. Senti mesmo essa abertura, muito intensa. Senti queimar. Pensei: “É a fogueira de São João acendendo para eu receber minha filha”. Suava muito. Sig enxugava, me dava água, me dava força. Em cada contração, todos nós paríamos juntos. Foi com essa força e para essas pessoas que estavam ali comigo totalmente entregues que às 06:05, com a lua cheia (dizem) ainda radiante no céu, pari Luana!
Quase não acreditei quando peguei no colo aquele bebezão lindo! Sim, Luana nasceu grande, com 52cm e 3.780Kg. Me lembro que beijava, cheirava… Ai, que cheirinho gostoso! Então ela chorou, eu cantarolei nossa música baixinho, ela se acalmou, papai Sig se desmanchou em lágrimas, nos beijamos e Luana mamou toda linda. Depois fez um cocozão no meu braço e nos rebozos! Haha! Enquanto ela mamava pari a placenta e nem foi difícil. Claro, né, depois desse parto o que é parir uma placenta! Então ficamos ali, contemplando a vida. Luana olhou para todos em volta, foi impressionante.
Pra nossa sorte, o pediatra (que já estava há um tempinho ali na sala junto com uma enfermeira, muito discretos) pediu apenas para escutar o coração dela, no meu colo mesmo. Depois saiu. Foi Sig quem cortou o cordão.
Luana nasceu. Eu, renasci.
No amanhecer do dia 23 de junho de 2016 entreguei minha vida para receber outras duas: a dela e a minha de novo. Luana nasceu. Eu, renasci.
Hoje, só sou porque Sig é comigo. E somos três porque Sig, Maristela, Marcela e Larissa foram comigo.
Sou grata a minha família: mãe, pai, irmãos e cunhadas.
Sou grata à vida, “que me ha dado tanto…”
Sou mãe!
E, se bobear, acho até que nasci pra isso! 🙂
É transbordando de emoção que encerro esse relato, de dentro do meu quarto, sentada na poltrona onde acabo de amamentar novamente minha filha, neste frio anoitecer do dia 22 de julho de 2016, um dia antes de celebrar o primeiro mês de vida da vida que eu gerei, nutri, pari e que agora dorme tranquila no meu colo.
ps: talvez este relato tenha ficado um pouco longo. Acontece que não poderia ser diferente já que Luana tem como mãe uma contadora de histórias. Assim como as histórias que eu preparo para contar para as crianças, este relato também foi sendo preparado, dia-a-dia, para ser contado. E, como as histórias, quanto mais a gente conta, melhores elas ficam e mais a gente quer contar de novo! Era uma vez….
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