Equipe
Marcela Flueti – doula
Naolí Vinaver Lopez – parteira
Vívian Scaggiante – fotógrafa e vídeo maker Além D’Olhar Fotografia
Família
Mayra Calvette – mãe
Enrico Ferrari – pai
Mônica Rodrigues de Freitas Calvette – mãe da Mayra
Geferson José de Arruda Calvette – pai da Mayra
Tainá de Freitas Calvette – irmã da Mayra
Isis Calvette da Cunha – sobrinha da Mayra
Um Sonho
Sempre sonhei com esse momento… o momento de ser Mãe!
Tinha muita vontade e curiosidade de passar pelo parto… brinco que se fosse pelo parto já teria parido muitas vezes! Mas é que com o parto acontece a maior transformação da vida de uma mulher: Ser Mãe…. Que é para sempre, SEMPRE! A vida nunca mais é a mesma…
Abertura
Final de 2013 fui para o Peru, com o intuito de me purificar, me preparar, me abrir para ser Mãe. Então dia 1 de janeiro de 2014 me abri para receber uma sementinha… e assim foi, no mesmo dia. Na primeira oportunidade essa sementinha cresceu… por nove meses… que momento único gestar uma nova vida!
A Gestação e a Ayla
Meu companheiro Enrico e eu decidimos não saber o sexo do bebê… mas sentia uma energia feminina muito forte… e só tínhamos nome para menina, Ayla, mesmo antes de ela ser concebida ja tinha esse nome muito forte.
Foi uma gestação bem ativa, acompanhando muitos bebês nascendo! Fiz o acompanhamento com a parteira Naoli Vinaver, que também é minha parceira – Trabalhamos juntas no Grupo Ama Nascer – com o meu amigo e obstetra Pablo de Queiroz. Fazia natação 2-3 vezes na semana, e era muito bom! Nadava, respirava, acalmando a mente… como uma meditação ativa! Quando não nadava, procurava caminhar. Sinto que me manter ativa fisicamente aumentou meu bem estar e nível de energia. No início da gestação senti bastante dor ciática, mas com a natação ela foi embora!
Para o final diminui o ritmo, sendo que o último parto que acompanhei foi o da minha irmã, estava com 36 semanas de gestação quando nasceu a Isis! Foi emocionante ver minha irmã parir com tanta tranquilidade e centramento. Sabia que o próximo bebê que veria nascer seria o meu! Que frio na barriga!
O Grande Dia chegou
Então chegou dia 24/09/2014… eu estava com 39 semanas e 4 dias. Acordei pelas 6 horas com contrações leves que foram se intensificando. Tentei ficar descansando o máximo que consegui. Demorei para acreditar que realmente o grande dia havia chegado! Estava transbordando de tanta alegria e emoção. Faltava pouco para conhecer meu bebê! Levantei fui ao banheiro e me avaliei… as pessoas não acreditam quando conto! Constatei que ainda estava bem no início, com 1 cm de dilatação, mas o colo estava bem fino! E resolvi ver o intervalo das ondas, pois estavam vindo com uma certa regularidade. E para minha surpresa já estavam a cada 5 min! Para mim o intervalo parecia maior, talvez a ficha ainda não tinha caído.
Pelas 7h da manhã meu marido Enrico acordou e se deu conta que alguma coisa diferente estava acontecendo. Eu estava gemendo de 5 em 5 minutos! Ele me perguntou se tinha começado.. eu falei que achava que sim! Então ficamos mais um pouco na cama e resolvemos levantar para comer algo antes que não conseguisse mais. Comecei a fazer um suco na centrífuga, mas demorou muito para ficar pronto pois as contrações já estavam a cada 3 minutos, então dava tempo de colocar uma cenoura e ficava de quarto para abertura, levantava colocava mais uma maçã e ficava de quatro… e assim foi, até eu terminar de tomar o suco, já tinha passado uma hora! Quando vinha a abertura eu sentia uma cólica muito intensa que durava cerca de 1 minuto e vinha rasgando! Sentia lá dentro no colo do útero mesmo, no baixo ventre. Nas costas não sentia nada. Nisso o Enrico estava organizando o ambiente para receber nosso bebê! Entre as ondas ainda conseguia raciocinar e pedir para ele algumas coisas.
Liguei para minha parteira pelas 8:30 para avisar que tinha começado o processo, mas falei que ainda estava no início, pois tinha me avaliado.. então avisaria quando ficasse mais intenso.. Liguei também para minha mãe e meu pai que viriam de outra cidade para o meu parto. A Marcela, amiga e doula que também faz parte do grupo Ama Nascer, que estaria no parto estava atendendo perto da minha casa, então falei que quando ela terminasse para passar aqui.
O chuveiro
Eu fui para o banho por volta das 9h e fiquei cerca de 1 hora, coloquei um tapete de yoga no chão para poder ficar de quarto apoios no chuveiro, pois não conseguia ficar em pé durante a abertura. O chuveiro foi bom, mas não aliviou muito o desconforto. Saí do chuveiro e fui para minha cama ficando sentada sob meus joelhos e quando vinha a abertura eu ficava de quatro na cama e gemia muito e movimentava o quadril para frente a para trás com muita vontade!!! Lembro que pedi para o Enrico secar meu cabelo pois não conseguia e não queria ficar com ele molhado. A Marcela chegou perto de 11h e ficou ao meu lado, lembro que falei para ela “Nossa realmente é muitoo forte!!!”. A Marcela acabou já ficando. Pedi para ela preparar meu altar sagrado com uma toalha bordada a mão que trouxe do Peru, com as imagens sagradas da grande Mãe, tambor e muitas velas que havia recebido no meu Chá de Bençãos.
O Portal
As aberturas foram se intensificando e eu fui aprendendo a lidar com elas. Para mim ajudava muito movimentar o quadril, gemer “Ahhhhh”, soltar e permitir ao meu corpo abrir! Eu não conseguia não movimentar o quadril na verdade. E tinha que ser movimentos rápidos para frente e para trás. O trabalho de parto evoluiu rápido, as contrações quase não tinham intervalo. Não estava vendo mais nada nesse momento, estava de olhos fechados e fui para dentro, me entreguei. Me joguei nesse imenso e desconhecido Portal.
A Força da Ancestralidade
Acabei esquecendo completamente de avisar a parteira e a fotógrafa que estava na hora de vir. Mas ainda bem que a Marcela se deu conta que estava forte e eu já estava em outro estado de consciência e chamou.
Às 12 chegaram meus pais e minha irmã Tainá com sua pequena Isis que havia nascido há 22 dias. Minha mãe entrou no meu quarto e me abraçou. Que momento emocionante esse… nos abraçamos e choramos juntas de emoção… havia chegado a minha vez! O momento mais esperado da minha vida, de receber o meu bebê! E ela sabia mais que ninguém o quanto havia esperado por esse dia, de me tornar mãe. Lembro de ter sentido a Graça descendo lá do alto… uma cumplicidade profunda entre nós e me sentido protegida e amparada por todas mulheres que vieram antes de mim. Sim, se elas conseguiram passar por isso, eu também conseguiria! Me deu muita força para continuar. Minha irmã veio me abraçar, ela tinha parido há alguns dias atrás. Ter mulheres que já passaram por esse portal me deu muita força. Ela me sugeriu ir para ponta da cama, fiquei assim sentada bem na ponta da cama gemendo e movimentando durante a abertura.
A Bola
Então pedi para ela trazer a bola. Ah, a bola! Tive um caso de amor com a bola! Sentei nela e foi tudo de bom! Conseguia movimentar bem mais. Acho que a Ayla deve ter ficado tonta lá dentro de tanto que eu rebolei em cima da bola… Foram 2,5 horas na bola sem parar de rebolar. Pedi também para colocarem a seleção de músicas xamânicas de parto que havia feito. E a música me ajudou demais a me manter centrada e não desesperar.
Entrega e Confiança
Minha parteira Naoli chegou pelo12:30, e pedi para ela me avaliar, pois tinha me tocado a pouco tempo e estava com 2 cm, mas achei que podia estar sentindo errado, pois já estava forte demais! Então ela me avaliou sentada em um banquinho baixinho, pois não conseguia nem pensar em me deitar… e constatou que eu estava com 2 cm de dilatação mesmo. Então eu pensei comigo mesma, “Minha Deusa, até onde vai essa intensidade, já está demais!!! Mas vamos lá… não tenho limites, vou ir até onde tiver que ir, eu entrego e confio”.
Voltei para a Bola e indo fundo nas músicas profundas e ritmadas. O quarto estava escuro e haviam algumas velas. O rebolado e o gemido eram como ondas, que aumentavam e diminuiram, mas nunca cessavam completamente. Era uma sensação muito avassaladora, eu tive que me conectar com todas minhas forças e força de todas mulheres. A abertura vinha com a maior intensidade que jamais pensei experimentar. O Enrico estava no quarto comigo. Ele tentou ficar por trás de mim, e me pediu para relaxar nele quando passava a contração… mas não conseguia! Elas não passavam completamente, só aliviavam um pouco, eu não conseguia parar de movimentar o quadril. Só sei que teve uma hora que a fotógrafa de parto e amiga Vívian Scaggiante entrou no quarto bem devagar que nem vi.
O Silêncio e a Presença
A Naoli e a Marcela também ficaram silenciosamente no cantinho do quarto. Mas eu estava no meu mundo, e realmente estava encontrando meu caminho de lidar com toda a intensidade do trabalho de parto. O silêncio, a presença e a força de cada um era a melhor coisa que podiam me dar. A Marcela fez um pouco de massagem na minhas costas, pois queria sentir essa massagem que para muitas mulheres ajuda tanto. Mas para mim não aliviou muito, pois não estava sentindo dor nas costas e sim no baixo ventre, lá dentro mesmo. Então o que me ajudava era uma bolsa de trigo quente em baixo ventre. Eu segurava aquela bolsa o tempo todo. Esse calor era muito reconfortante. Minha vontade era de colocar a bolsa lá dentro na vagina! Como se precisasse calor para poder relaxar e abrir.
A Mão
O Enrico foi para minha frente, na cama e me deu sua mão. Nossa, que mão! Uma vez que eu encontrei essa força não deixei ele sair mais do meu lado. Eu precisava daquele pilar de apoio. Segurava sua mão e podia rebolar na bola e gemer com toda minha vontade. Só lembro de uma hora estar rebolando para baixo, meus joelhos enconstavam no chão! Era como se eu fosse um vulcão gemendo, tremendo, pronto para entrar em erupção. Meu corpo todo gemia… um gemido que vinha lá das entranhas, um gemido visceral. Não era mais um “Ahhhhh” inteiro, mas tremido, profundo. Como se eu fosse explodir de tão avassaladora a experiência. Não é só a dor. São muitas sensações ao mesmo tempo. É uma abertura em todos níveis, física, mas também emocional e espiritual. E força a energia são tão intensas que parece que você vai se desintegrar.
A Banheira
Naoli sugeriu para ir para banheira. Entava tão bom ali, não sabia como eu iria do meu quarto atééé a sala. Parecia muito longe! Mas passou uma abertura, levantei e resovi ir no banheiro antes fazer xixi. Mas não saiu quase nada e tive uma abertura no vaso que so lembro de ter gritado “Enricoooooo”, cadê a minha mão! Não conseguia sem a mão dele. Então passou e eu fui rapidamente até a sala, mas não deu tempo de entrar na banheira antes de ter a próxima abertura. Assim, foi, fiquei de quatro na sala movimentando o quadril. Quando passou, entrei na banheira. E fiquei de cócoras. A água estava quente demais para mim, mas estava 37 graus! Não sabia se ia conseguir ficar lá dentro. Mas me acostumei com a água… mas ela não ajudou a aliviar a dor. O Enrico foi para cozinha almoçar quando tive a próxima abertura. A Marcela estava por perto e pedi a sua mão. Não falei, mas ela entendeu, estava tão animal que não tinha palavras. Só lembro de ter ficado com medo de quebrar sua mãozinha… nesse momento resolvi me avaliar para ver se estava muito longe.
O Expulsivo
Para minha surpresa já consegui sentir os cabelinhos dela 1 cm para dentro da minha vagina. “Tá aqui!” eu falei. A dilatação estava completa e os cabelinhos quase aparecendo para fora da vagina e eu nem havia me dado conta que eu estava no período expulsivo! Claro! Por isso já estava fazendo aqueles movimentos em direção ao chão com a bola! O bebê já estava chegando!!! O Enrico entrou na banheira comigo e peguei meu pilar de volta. Comecei a sentir os puxos. Vontade de evacuar. Sabia que era a cabecinha dela pressionando o reto e deve ter saído alguma coisa, mas nem vi nada. Muito louco tudo isso! Sentir tudo que sabia na teoria.
Estava de cócoras e em cada abertura fazia força, com meus dedos dentro da vagina, sentindo todo movimento que minha força provocava na descida do bebê. Cada contração eu empurrava e ela descia mais um pouco. Sentir ela descendo me ajudava muito. Eu sentia a força que eu tinha que fazer e na medida perfeita. Se eu empurrase demais sentia que ia romper. Já sentia como se tudo estivesse se esticando ao máximo. Aquela queimação intensa de abertura. Fiquei nesse processo de ela descer um pouco e quando passava a contração ela entrava. Naoli me dava óleo para passar na vagina, mas não deixava ninguém encostar.
Até que chegou uma hora que ela não entrava mais completamente na vagina. Eu respirava entre as aberturas. O intervalo havia aumentado. O que era muito bom para mim e para o bebê. O ambiente estava silencioso, só a música tocava. Lembro de conseguir pedir para tocar Ave Maria que havia selecionado. Meu pai tocava tambor, minha mãe e todos rezavam, se conectando com essa força maior do universo. O parto é um portal. Todos presentes sentem. Eu não podia perder o fio de conexão, senão eu perderia o meu centro. Ninguém podia falar. Ao mesmo tempo eu estava completamente para dentro e completamente aberta para tudo ao redor. Como seu tudo estivesse amplificado 1000 vezes. Meus sentidos estavam muito aguçados. Meu instinto animal me dominou completamente. Eu me sentia uma leoa parindo.
A Benção do Nascimento
Os batimentos cardíacos do bebê estavam sempre perfeitos, o que me deixava tranquila de ir no meu ritmo, sem pressa dela sair, dando tempo para minha vagina se abrir. O Enrico também sentia seus cabelinhos mexendo na água de um lado para o outro. Eu também já conseguia ver. Até que veio a abertura final… sabia que naquela ela iria sair. Então respirei “cachorrinho”, pois não conseguia fazer o “ahhh”, para a cabecinha sair devagarinho. A cabeça saiu! Coloquei minha mão e senti uma circular de cordão frouxa, tirei ela com a ajuda do Enrico e fiz mais uma força… foi quando nasceu o resto do corpinho às 15 horas e 19 minutos.
Trouxe nosso bebê para meus braços!!! Que emoção! Ela estava ali! Era verdade! Era um bebê dentro de mim! Ela estava expelindo os líquidos pela sua boquinha e a ajudei sugando seu nariz e boca duas vezes. E ajudou mesmo. Logo ela chorou, um choro de VIDA! Mas logo parou quando a aconcheguei no meu colo. O mundo parou. Só existia aquele momento presente, e que presente! Não conseguia parar de olhar para ela beijar, lamber, cheirar. Que Amor mais Divino! Senti uma PAZ profunda e verdadeira. Um portal havia sido aberto. Eu estava completamente aberta. Meu coração havia sido aberto para sempre. Foi um momento de reconhecimento profundo e de muito, muito amor.
Menino ou Menina?
E tinha até esquecido de ver o sexo! Quando o Enrico lembrou, “é menino ou menina?” e eu olhei e era uma menina! A nossa Ayla!!!
Ficamos nos namorando por um bom tempo ainda na banheira. Logo ela ja estava colocando a linguinha para fora procurando pelo peito. Ela mamou logo em seguida.
A Placenta
Logo senti mais uma cólicas e sabia que a placenta estava chegando! Tentei fazer força na banheira, mas ela não saiu. Então saí da agua, pois queria que aquela cólica passasse logo. Fiquei em pé ao lado da banheira e a placenta nasceu. Inteira e Linda, cheia de vida. A casinha do meu bebê. O cordão ainda estava intacto, esperando a placenta sair para depois ser cortado. Me deitei em um colchão ao lado da banheira para dar mama e comer alguma coisa antes de ir até o quarto. Para minha felicidade o períneo estava intacto! Não poderia estar mais feliz e realizada. Estava me sentido a mulher mais poderosa e plena do mundo!!!
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O Amor Incondicional
Parir foi a experiência mais avassaladora, grandiosa, profunda e transformadora da minha vida. Fui para um lugar onde o tempo pára, o lugar mais distante e ao mesmo tempo mais próximo Entrei em contato com toda minha força interior, todo poder de Ser Mulher, Geradora, Guerreira, Protetora, Mãe… Me abri completamente, em todos os níveis, para receber o maior presente a minha Vida… a Ayla. Nesse dia Renasci como mulher, no rito de passagem que é o parto, me transformei em Mãe e conheci o amor mais poderoso do mundo! O Amor incondicional!
Gratidão
Agradeço à Deusa que em mim habita. Agradeço à Ayla por simplesmente Ser e me ensinar sobre o Amor mais puro e verdadeiro. Agradeço ao meu marido Enrico por todo seu apoio incondicional, à minha família, minha parteira Naoli Vinaver, doula Marcela Flueti, Gabi Zanella, Larissa Grandi, Vívian Scaggiante e Suzanne Shub do Além D’Olhar fotografia, ao Dr Pablo De Queiroz, ao Grupo AmaNascer e à VIDA!
Mayra Calvette.
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